Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.
Paulo Freire

terça-feira, 6 de novembro de 2012

RECUPERAÇÃO PARALELA NA MODALIDADE À DISTÂNCIA E AS CONTRIBUIÇÕES DO SOFTWARE JAVA CLIC

São Paulo,14/05/2010
 
Celise Monteiro França Correia
Universidade Federal de São Paulo  
email: celise.correia@unifesp.br
Rita Maria Lino Tarcia
 

Camila da Veiga e Silva Camberlingo
Silvia Maria Coelho Costa
Categoria: Métodos e Tecnologias
Setor Educacional: Educação Básica
Natureza do trabalho: Projeto em Andamento
Relato de Experiência Inovadora


Resumo

O presente estudo apresenta uma proposta de recuperação paralela a distância com o uso do software Java Clic. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), sugere a preferência aos estudos de recuperação paralela e a deliberação da Lei Federal (2008), por indicação do Conselho Estadual de Educação apóia o uso das tecnologias e de educação a distância na educação básica. Apoiada nisso, o trabalho sugere o uso de tecnologia de forma adequada para criar uma mediação entre professores, alunos e informação. Com o uso de uma ferramenta simplificada como o software Java Clic, o educador pode utilizá-la com a plataforma de ensino a distância, como uma nova estratégia para a recuperação paralela e assim, além de possibilitar a construção de conhecimento colaborativo motivar os alunos a trabalhar de forma autônoma e responsável.
 

Palavras chave
: recuperação paralela, educação a distância, software educacional.

Importância da recuperação paralela
A escola tem como princípio básico o respeito à diversidade de características e de ritmos de aprendizagem dos alunos e precisa propiciar oportunidades de aprendizagem, redirecionando ações para superação das dificuldades e defasagens diagnosticadas no processo de ensino e aprendizagem.(1)

A recuperação, na educação escolar, já estava prevista na Lei 5692/71, no art. 14: "O aluno de aproveitamento insuficiente poderá obter aprovação mediante estudos de recuperação proporcionados obrigatoriamente pelo estabelecimento", e, no parágrafo 1º do art.11: "os estabelecimentos de ensino de 1º e 2º graus funcionarão entre os períodos letivos regulares para, além de outras atividades, proporcionar estudos de recuperação aos alunos de aproveitamento insuficiente..."

O Conselho Estadual de Educação de São Paulo (CEE) já havia ampliado o conceito de recuperação, expresso na Lei 5692/71. A nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) - Lei 9394/96- recoloca o assunto na letra "e", em seu capítulo II, inciso V - "obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos." (2)
Segundo o CEE de São Paulo, existem vários tipos de recuperação, como a imediata, contínua, paralela, a intensiva no final dos bimestres, a intensiva de final de ano e a intensiva de férias. 3
A LDB, como posto acima, sugere a preferência aos estudos de recuperação paralela no ano letivo. Por meio desse tipo de recuperação, a escola poderá rever metodologias, estratégias, recursos utilizados, para proporcionar ao aluno outra maneira de vivenciar e internalizar o conteúdo, que posteriormente será cobrado utilizando os instrumentos avaliativos definidos.
 
A partir dessas constatações, a estratégia que será abordada nesse estudo, será o uso de educação à distância com atividades multimídias no Software Livre Java Clic.

O Conselho Estadual de Educação no uso de suas atribuições e com fundamento no Artigo 242 da Constituição Estadual, do Artigo 10 da Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, no Art. 2º da Lei Estadual nº 10.403, de 6 de julho de 1971, e na Indicação CEE nº 77/2008.

A deliberação que foi aprovada em 01/10/2008, estabelece orientações para a organização e distribuição dos componentes do ensino fundamental e médio do sistema de ensino do Estado de São Paulo e apóia o uso das tecnologias e de educação a distância:

Art. 3º - No ensino fundamental poderão ser utilizados mecanismos de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), para atividades complementares de ensino, reforço e recuperação.(3)
Art. 4º - No ensino médio, quaisquer componentes curriculares poderão ser trabalhados na modalidade semipresencial.(3)
§ 1º - Considera-se modalidade semipresencial quaisquer atividades didáticas, módulos ou unidades de ensino centrados na auto-aprendizagem e com a mediação de recursos didáticos organizados em diferentes suportes de informação que utilizem tecnologias de informação e comunicação remota.(3)
§ 2º - O limite máximo para oferta de componentes curriculares nesta modalidade é de 20% do total de horas destinadas ao curso.(3)
Conforme afirma Moran(4), a educação a distância é uma prática que permite um equilíbrio entre as necessidades e habilidades individuais e as do grupo - de forma presencial e virtual. Nessa perspectiva, é possível avançar rapidamente, trocar experiências, esclarecer dúvidas e inferir resultados. 4
As atividades planejadas a distância, podem incentivar e motivar os alunos a trabalhar de forma autônoma e responsável, além de desenvolver uma rotina de estudos que pode torná-los mais críticos na sua formação e no aprendizado.





As tecnologias na Educação
Atualmente, estamos inseridos em um mundo em que todos os segmentos da sociedade utiliza a tecnologia com o objetivo de facilitar e tornar a vida mais prática do indivíduo.

Não existe mais barreiras para o acesso a informação e ao conhecimento. As tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) têm propiciado novas formas de educação, favorecendo novos ambientes de ensino e aprendizagem.




Segundo Kenski

(5), as novas tecnologias de comunicação e informação trouxeram mudanças consideráveis e positivas para a educação. Vídeos, programas educativos na televisão e no computador, sites educacionais, softwares diferenciados transformam a realidade da aula tradicional, dinamizam o espaço de ensino-aprendizagem, onde, anteriormente, predominava a lousa, o giz, o livro e a voz do professor.

Os recursos tecnológicos aplicados à educação podem ser considerados como ferramentas de aprendizagem para resolver problemas e elaborar projetos. Sendo utilizado conscientemente, torna-se recurso interdisciplinar e multidisciplinar e um instrumento para estimular a criatividade.






Não é o uso de tecnologias que vai revolucionar o ensino, mas sim a maneira como estas são utilizadas, de forma a criar uma mediação entre professores, alunos e informação. 

Contribuições do software Java Clic
Existe uma diversidade de recursos tecnológicos disponíveis para o uso do professor, uma gama de opções para enriquecer o seu trabalho em sala de aula. O software educacional é um recurso interativo e atraente para o aluno, mas é importante que o professor conheça e analise o software para saber se está de acordo com a proposta educacional da escola e a faixa etária a ser trabalhada.

O Software Java Clic apresenta aspectos positivos que contribuem para o seu uso na escola: é flexível e possibilita que o professor crie as atividades, para qualquer disciplina e faixa etária, é gratuito e não requer conhecimentos avançados de tecnologia para utilizá-lo, pois sua interface é simples e de fácil entendimento. Apresenta várias opções de acessibilidade para pessoas portadoras de necessidades educativas especiais, tais como o cursor automático, botão, ponteiro e telas de ajuda expandida. (6)
Este programa pode ser instalado no computador, por meio do site: http://clic.xtec.net. É um projeto de software livre, que pode fazer uso de diversas plataformas e sistemas operacionais, tais como Windows, Linux, Mac e Solaris. Contém quatro aplicações: Java Clic Author (opção de criar atividades), Java Clic Player (opção para jogar as atividades), Java Clic Repports (opção de gerar relatórios de desempenho das atividades realizadas) e Java Clic Applet (para disponibilizar as atividades na internet).





É possível criar atividades com diferentes modalidades: associação (simples e complexa), jogo da memória, exploração, identificação de células, telas de informação, quebra-cabeças (duplo, de troca e simples), exercícios de texto (preencher lacunas, múltipla-escolha, identificação e ordenação de elementos, respostas curtas), palavras-cruzada e caça-palavras. As atividades são feitas e empacotadas, tornando-se um projeto. É permitido o uso de recursos multimídias para criar as atividades, tais como: vídeos, textos, desenhos, imagens, animação, músicas e etc,

Ao realizar as atividades, o programa mostra o número de erros e de acertos. Conta com um sistema de informação que permite acompanhar o trabalho individualizado de cada aluno, os resultados obtidos podem ser integrados a uma base de dados compartilhada em rede e assim, o professor pode obter o perfil dos trabalhos de cada aluno. (6) 6
Entre outras coisas, é um programa que está em constante evolução, desde 1992, com versões melhoradas, novas aplicações e recursos. Desde a primeira versão (1992) até a mais atual é a 0.2.1.0 (2010-01-25 12:00:00), têm crescido cada vez mais a importação de múltiplas idéias e sugestões de educadores ao redor do mundo para preparar materiais de qualidade para os alunos. No site do Jclic, estão disponíveis 927 projetos em um total de quinze idiomas diferentes criados por diferentes educadores para diversas disciplinas e faixas etárias que pode ser alterado ou modificado por qualquer educador do seu país de origem e ser utilizado na escola que desejar. (7)
Com essas inúmeras possibilidades, cria-se condições favoráveis ao ensino e aprendizagem, isto porque, o professor tem acesso a uma ferramenta simples, porém eficaz, que pode se tornar um aliado ao seu trabalho pedagógico e o usuário (aluno) se sente estimulado a realizar os jogos pedagógicos propostos.
Recuperação paralela a distância com o uso do Software Java Clic
No contexto da recuperação paralela, qualidade é proporcionar aos sujeitos possibilidades de se tornarem pessoas melhores.(8)
Um dos caminhos para uma prática pedagógica de qualidade é a recuperação do ensino, e não da aprendizagem, pois o educando não adquiriu o conhecimento esperado então cabe retornar o ensino para que ele venha obtê-lo de fato.

Para retornar o ensino, buscam-se novas estratégias, recursos, muda-se a metodologia do ensino (8) e, como proposta nesse estudo, utilizar a educação a distância. Isto porque, é possível criar cursos diversos e gerar a possibilidade de construção de conhecimento colaborativo e permite ainda que os alunos adquiram competências e participem de uma comunidade de prática.
O Software Java Clic e os ambientes virtuais utilizados em educação a distância são recursos tecnológicos que podem facilitar o trabalho do professor e motivar os alunos para a aprendizagem. Com a disponibilização das atividades educativas na plataforma de ensino a distância, o aluno poderá em sua casa realizar atividades propostas pelos professores no Software Java Clic e o professor poderá visualizar os resultados das atividades desenvolvidas pelos alunos através dos relatórios que são gerados pelo próprio programa por meio de gráficos, facilitando a consulta do professor e visualização do desenvolvimento do aluno.

Além disso, o aluno poderá participar de chats, fóruns, wikis, assistir a vídeos, ler postagens do professor referentes ao conteúdo e muito mais, de acordo com as possibilidades que a plataforma de ensino a distância puder oferecer. (7) O software Java Clic possui uma aplicação multimídia educativa de origem e de caráter colaborador entre os professores ao redor do mundo, com distribuição gratuita e para diferentes servidores. Essa linha de pensamento vem de encontro com a educação a distância, que permite criar materiais e compartilhar conhecimento pela rede, com o objetivo de propiciar a construção da aprendizagem significativa e colaborativa.

Conclusão
Utilizar os recursos que a tecnologia oferece, de forma consciente, é um desafio para o educador, mas com o uso de ferramentas simples e práticas, como o Software Java Clic pode-se criar atividades estimulantes, desafiadoras e interativas e propiciar aos alunos uma nova oportunidade de vivenciar e internalizar os conteúdos e assimilar o conhecimento.





Os ambientes virtuais de educação a distância, trazem como benefícios a criação de cursos com possibilidades de interação entre alunos e professores e a construção de conhecimento colaborativo, permite aos alunos adquirir competências e participar de uma comunidade de prática.
Na perspectiva do que foi apresentado no presente trabalho, pontos convergentes foram encontrados no uso da EAD e do Java Clic, como uma das alternativas para a recuperação paralela. O que se almeja é suprir as defasagens no ensino e dificuldades dos alunos no decorrer do ano letivo, com ferramentas tecnológicas que permite uma nova forma de ensinar e aprender com tempos e espaços diferenciados do que o aluno vivencia na sala de aula.
8
Referências





1. Senn SCH, Bastos CCBC. Avaliação e recuperação de estudos: como superar as contradições entre o marco conceitual e operacional? [texto na internet]. In: 1º Simpósio Nacional de Educação, XX Semana da Pedagogia; 2008; Nov 11-23; Paraná. [citado 2010 Maio 13] Disponível em: http://www.unioeste.br/cursos/cascavel/pedagogia/eventos/2008/1/Artigo%2038.pdf
2. Brasil. Conselho Estadual de Educação de São Paulo. Lei de Diretrizes e Bases - Lei 9394/96. Indicação CEE Nº 05/98. Torna obrigatório os estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos."[texto da internet] . Disponível em: http://www.ceesp.sp.gov.br/Indicacoes/in_05_98.htm
3.Brasil.Conselho Estadual de Educação de São Paulo. Deliberação CEE nº 77/08, de Aprovada em 1º/10/2008

. Estabelece orientações para a organização e distribuição dos componentes do ensino fundamental e médio do sistema de ensino do Estado de São Paulo e apóia o uso das tecnologias e de educação a distância, [ texto da internet]. Disponível em: http://www.ceesp.sp.gov.br/Deliberacoes/de_77_08.htm

4. Moran JM. O que é educação a distância. [texto da internet]. 2010 [citado 2010 Maio 13]; [cerca de 4 p.]. Disponível em: http://www.cead.ufop.br/arquivos/texto2.pdf
5. Kenski VM. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 4ª ed. Campinas: Papirus; 2004.

6. Chacón JP, Arasa CS. Políticas institucionales y trabajo colaborativo entre docentes: El ejemplo de la Zona Clic. Revista Iberoamericana de Educación. 2004;36:113–127.

7. Téllez SA, Burguera FB, Monfort AP. Integración de proyectos educativos
con Moodle:JClic,Quaderns Virtuals e Intraweb. [texto da internet]. Moodle Moot 2006: Departamento de Educación y Universidades de la Generalitat de Catalunã. [citado 2010 Maio 13]. Disponível em: http://clic.xtec.cat/qv_web/docs/moodlemoot06_comunicacio.pdf
8. Tremmell MM . Recuperação paralela: do lampião à luz solar. [texto da internet]. In: IX Congresso Nacional de Educação - EDUCERE, III Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia; 2009; Out 26-29; Paraná. [citado 2010 Maio 13]. Disponível em: http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2271_1354.pdf 10

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